domingo, 28 de dezembro de 2008

Caixinha de música

Na penumbra do quarto
da menina,
a pequena bailarina
dança

- uma caixinha de música

inventa seus passos,
os espaços
da menina.

No encanto do quarto,
o sonho voa
embalado
pelas sombras da bailarina.

E diz a mamãe:
- Essas sombras que não dormem nunca!

por Eduardo Trindade

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Quando te bate a tristeza


A lágrima é um pequeno eclipse
que faz gato e sapato do sol
porque sabe que no dia seguinte
teus olhos voltarão a brilhar.

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Por Eduardo Trindade.
Imagem: Museu de Arte Contemporânea de Niterói no olhar de meu irmão.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Solstícios


A Andréia Pires, moça conterrânea minha que sonha fazer coisas bonitas, ofereceu gentilmente este selo às minhas Valsas.
Andréia é escritora de Solstícios, um espaço de prosa gostosa (poesia também, também gostosa). Isto é um pouco de Andréia:

Obrigado, moça, pelo carinho e pelas letras!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Poema Táctil

artista-artesão de Xi'an, China

Percorre com a mão o teu próprio rosto
de olhos cerrados
em busca do maior segredo.

Onde foi que ficou escondido
o menino arredio
que brincava nas poças da chuva?

Que sorriso escondeste
nas dobras do tempo?
O que nunca foi escrito
na tua pele enrugada?

E de onde vem essa coragem
para estender a mão,
afagar o rosto,
contemplar as rugas
e o segredo?

Vês? No fundo da alma,
piscando os olhos,
o menino arredio
guarda teu mesmo sorriso.
versos e fotografia: Eduardo Trindade

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Fósforo usado

— E então isto é tudo?
— É — falei ao fósforo, que já não tinha serventia.
E ele se foi serenamente ao lixo.

Simples assim, acabou.
.
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por Eduardo Trindade

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Ciranda

Só para ti hei de cantar
a canção esquecida no bolso da camisa.

Só para ti hei de encantar
a canção perdida nos pés da bailarina.

Só de ti hei de esperar
a cor inédita da aurora.

Brinco contigo
mesmo quando não estás.

Durmo contigo
mesmo quando não sonhas.

Viajo contigo,
mas já foste embora.

A brincadeira de te esperar
é séria como o passo da bailarina,

teu sonho
é tão difícil de encontrar.


Eduardo Trindade

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

"Por favor... Desenha-me um carneiro..."




Havia uma carneirinha que tinha duas meninas
E as meninas brincavam de casinha nos pés dela

E as três escorregavam de meia na sala.
A carneirinha levava as meninas na escola
E davam risadas juntas.
E brincavam na areia.
Um dia a carneirinha cresceu asas
E foi ser estrela no céu.
As meninas choraram lágrimas de lã.

Dani Santos




Estes versos não são meus; tomei-os emprestados de Dani Santos. Dani é uma amiga - uma amiga recente, uma amiga de mãos cativantes (mãos que escrevem belezas como essa aqui de cima). E Dani é uma artista, pois emociona e se emociona. A carneirinha foi e é real, assim como são reais as meninas. A mágica, nas mãos da artista, também é real: consiste em dar cor e vida ao que, de outra maneira, passaria por banal.
Abraço a Dani porque, como ela, eu me emociono quando percebo que a vida é feita de brincadeiras, asas, estrelas e lágrimas de lã.

(Meu desenho: A carneirinha da menina Dani)

sábado, 22 de novembro de 2008

Brincando no Túnel do Tempo


Hoje não publico versos, pois quero dar destaque à fotografia. Eis meus sobrinhos, Nathalia e Lucas, no interior da Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre.
Quem nunca brincou de colorir uma paisagem em preto-e-branco?
por Eduardo Trindade

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Pátio da Casa Velha

As folhas que caem da árvore pousam na toalha da mesa.
Suavemente
dançam, rodopiam e dormem sobre o tecido
estampado de flores vermelhas.

O vento varre as folhas
em silêncio.

Piruetas,
são as folhas que o tempo leva.

As mãos tagarelas que pousavam sobre a mesa
em tardes de baralho
não estão lá,
levou-as o tempo.

As flores que a brisa tocava, nos galhos da árvore,
emudeceram,
as flores vermelhas do tecido estampado
parecem gritar.

palavras e imagem por Eduardo Trindade

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Faça sua parte: adote um Trema

Era uma vez, num país não tão distante, um sujeito muito trabalhador. Dedicava-se como ninguém a cumprir sua função, e olha que nem sempre ele era reconhecido por isso.
Seu nome era Trema. Ele vinha de uma grande família de sinais gráficos famosa na Alemanha, na França, na Suécia e em Portugal. De Portugal, ele havia emigrado ainda jovem para o Brasil, junto com outros colegas, como a Crase e o Acento Agudo. Alguns destes colegas tinham apelidos: o Acento Circunflexo, por exemplo, todos chamavam de Chapeuzinho. Mas o Trema sempre se considerou uma pessoa séria, que não podia correr o risco de se vulgarizar, e por isso nunca adotou um apelido.
A tarefa do Trema? Era das mais importantes. Ele era responsável por ensinar aos falantes da língua, especialmente aos leitores de um texto escrito, a pronúncia correta das palavras. Nesta profissão, o Trema acabou encontrando e fazendo ótimos amigos. Durante anos, foi sempre visto de mãos dadas com uma turma de ditongos.
Acontece que havia gente que olhava o Trema com cara feia. No começo, ele não se importava. Nunca fizera mal a quem quer que fosse! Nunca sequer se divertira assustando vestibulandos – alguns de seus colegas, como o Acento Grave, gostavam de fazer isso, mas não ele! Porém, com o tempo e com as repetidas injustiças de que era vítima, aquilo passou a incomodá-lo.
Começou aos poucos, na surdina. Veio na escalada do crime que acometia as grandes cidades do país. Jornais e periódicos passaram a seqüestrar o Trema que havia na palavra seqüestro. Sequestro.
A princípio, ninguém se deu conta. Quando perceberam, ao invés de chamarem a polícia e resgatarem o pobre seqüestrado, usaram o fato como arma: esse Trema é tão inútil que ninguém sente falta dele!
E então veio o movimento. Passeatas. Abaixo-assinados de estudantes de Língua Portuguesa que tinham senhoras gordas e carrancudas como professoras. Pressionaram a Academia. Esta enviou um memorando ao Governo. O Governo se fechou numa reunião séria e debateu, debateu. Criaram um Grupo de Trabalho. Anos e anos de discussão, atividade de lobistas, jogo de interesses. E o Ministério dos Sinais Gráficos veio com a sentença.
– O Trema, meliante de notória atividade subversiva, fica condenado ao exílio perpétuo, devendo deixar este país em primeiro de janeiro. Caso se recuse a cumprir a pena, as Autoridades Literárias têm o aval para utilizar a força buscando o extermínio definitivo do Trema. Outros sinais gráficos que tenham tido contato com o condenado, como o Acento Agudo e o Acento Circunflexo, passam a serem considerados subversivos e fica proibida sua presença em assembléias, vôos, sobrevôos e afins.
Imaginem o desespero do coitado do Trema! Ele, que nunca fizera mal a ninguém! Expulso de um país que ele amava tanto! Proibido de fazer o trabalho que ele tanto amava!
O Trema passou meses deprimido, sem saber o que fazer. Até que, num canal da televisão, viu por acaso a palestra de um especialista em mercado (ou marketing, como dizem em português). Tratava-se de um consultor aparentemente muito famoso, que fez uma longa explanação sobre nichos de mercado, planejamento estratégico, foco no cliente, tempestades cerebrais e, por fim, sobre como se adaptar ao mercado para manter-se nele.
Vocês acreditam que, neste momento, deu-se um estalo na cabeça do Trema, uma lâmpada se acendeu e ele teve uma idéia? Decidiu sair da letargia. Estava salvo! Mas era preciso diversificar. Pensou em distribuir folhetos explicando sua tragédia pessoal e vendendo sua idéia. Em esquinas. Em ônibus. De porta em porta.
Foi assim que eu recebi um destes folhetos. E aderi à campanha.
Tudo o que o Trema quer é um emprego honesto, ajudar na evolução desta Língua Portuguesa que ele tanto ama, vocês sabem? Longe dele querer ser contra a evolução: ele só quer poder contribuir.
Por isso, o Trema está se oferecendo para, a partir do próximo ano, assumir uma vaga de Dois Pontos. E ele conta conosco. Vejam, ele se dispõe a sair da horizontal e passar os dias na vertical. Ele pede a nossa ajuda. Em primeiro de janeiro, adotem um Trema: não deixem de colocar Dois Pontos em seus escritos.
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Texto por Eduardo Trindade, numa homenagem a Emília no País da Gramática.
Folhetos de cordel fotografados por Eduardo Trindade.
Este artigo foi publicado no jornal
O Globo de 12/11/2008.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Feira do Livro

Começou hoje a 54a. Feira do Livro de Porto Alegre. Para os gaúchos, a Feira dispensa apresentações. Para os de fora, digo que se trata, provavelmente, do maior e mais duradouro evento do tipo no Brasil. Nada que se compare às bienais. A Feira é uma festa progamada sob medida para aproximar leitores, livros e escritores.
Para começar, ela acontece na Praça da Alfândega, no Centro de Porto Alegre, local de grande circulação de pessoas. As editoras, livrarias e demais expositores não se organizam em estandes, mas em bancas de todo o tipo - ordenadas ou caóticas, intimistas ou mais formais. Eu disse bancas - afinal, é uma feira.
E há os jacarandás. Árvores que poderias ser consideradas um dos símbolos da cidade, os jacarandás estão por toda a praça. Florescem na primavera, anunciando de forma magnífica a chegada desta estação - e, é claro, da Feira do Livro.
Acredito que todo porto-alegrense que se preze coleciona ao menos algumas histórias sobre a Feira. Eu, é claro, tenho as minhas - trata-se de uma longa relação com a praça e com a leitura.
Agora, mais uma Feira e mais uma história. Pois, pela primeira vez, freqüentarei a praça como autor publicado. Mais do que isso: meu livro estará lá, e eu darei uma sessão de autógrafos! Se a ansiedade já seria natural, desta vez está muito maior. Se a praça poderia ser lugar de cruzar com amigos, mais do que nunca quero fazer o convite para encontrá-los lá!
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O quê: sessão de autógrafos de As Valsas Invisíveis, de Eduardo Trindade
Onde: Praça de Autógrafos da Feira do Livro de PoA, entre o MARGS e o Memorial do RS
Quando: 14/11/08 (sexta-feira) às 15:30
O livro: também poderá ser encontrado, durante a Feira, na banca da AGEI, perto do Santander Cultural
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Sobre a fotografia: não é a Praça da Alfândega, claro, mas resolvi homenagear um de meus escritores favoritos publicando esta imagem da Casa de Cultura Mario Quintana, instalada no antigo hotel onde morou o poeta. A Casa de Cultura pode ser visitada em um passeio a pé a partir da Praça.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Praça


Colocaram a estátua de um poeta no banco da praça.
Tão próximo da população.
Imóvel,
distante como nunca estivera em vida.

Vieram as pombas ciscando em seu chapéu.
Caíram as flores dos jacarandás sobre os ombros.
Passaram os sóis, as luas,
chuvas e cerrações.
À noite, as prostitutas o ignoraram solenemente.
De dia, os passantes nem reparavam,
mas crianças se aninhavam
em seu colo de metal.

Alguém levou os óculos esculpidos,
arte de quem não enxerga.

Ficaram-lhe os olhos de estátua:
ninguém sabe, mas o poeta via,
no outro lado da praça,
o casal de velhinhos
abraçados
– de braços dados
com o passar dos anos.

por Eduardo Trindade

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Bolo de chocolate


Sim, seu moço, o senhor não vai fazer a desfeita de recusar o meu bolo de chocolate, não é? Este bolo é famoso, minhas irmãs sempre disseram que eu era a mais talentosa na cozinha. E as minhas colegas sempre disputavam cada pedaço quando eu levava um pouco para elas, o senhor precisava ver.

Mas, como eu ia lhe dizendo, era raro a gente poder servir uma mesa farta assim lá na minha cidade. Não tinha luxo. A vida era mais simples. Mas a cidade mudou tanto, tanto... Quase nem reconheço.

Lembro que a cidade, mesmo, era só três ruas. Asfalto não tinha. Aquelas casinhas coloridas. E todas com um quintal grande, sempre, e bem cuidado. Ah, dava gosto ver. Mas mudou muito, sabe. A cidade cresceu demais. Inchou. Não parece mais a cidade da minha infância. Agora já faz tempo que tem água encanada, mas eu lembro que cada casa tinha o seu poço. Era do poço que a gente tirava a água. E era uma água pura, sim, que a gente sabia de onde vinha. Não tinha mistério. Era mais simples, como lhe falei.
Também não tinha essas modernidades de luz elétrica. Hoje parece que ninguém vive sem ela, mas, na minha época, a gente vivia. Os postes eram com lampião, sabe? Toda noite, ficava aquele cheiro na rua, dos lampiões. Mas ninguém se importava, até porque íamos nos recolher cedo. Depois instalaram um gerador na cidade. Foi então que pudemos ter rádio. Ah, mas o gerador só funcionava até as dez horas. Depois, era silêncio. Também, nosso pai desconfiava um pouco disso tudo. Mas nossa mãe nunca se importou com o rádio. Ela gostava era das canções que tinha ouvido da mãe dela e que repetia para a gente. Era tão bonito! O senhor quer ouvir?

Ah, antes deixa eu lhe preparar uma xícara de chá, o senhor aceita, seu moço? Ou prefere um suco? Estas laranjas aqui eu recém trouxe da feira, posso espremer num instante. Hummm, não precisa, um chá é suficiente, não é? Bom, mas como eu dizia, tinha canções tão bonitas! Algumas eram trágicas, mas mesmo assim eram bonitas. Eu gostava quando falavam de amor... Uma mulher, uma vez, se jogou do alto da pedra e foi cair direto no mar. Ela esperava o namorado, que era barqueiro, mas o rapaz chegou com outra e ela viu. Lá do alto da pedra. A canção diz isso. A pedra, o senhor sabe, à esquerda, chegando na cidade. Até hoje tem uma cruz lá no alto, é por causa dessa mulher.

Eu aprendi a cantar assim foi com minha mãe, desde cedo. Ela tinha uma voz tão bonita! E eu também, sabe, gostava de cantar desde pequena. Houve uma época que o rádio fazia uns concursos com as meninas lá do grêmio, sabe, e eu cheguei a tirar primeiro lugar. Eu sempre ganhava alguma coisa; os prêmios eram pacote de macarrão, pacote de bolacha. Aí, eu ia para casa toda orgulhosa.

O gostoso, também, era quando resolviam fazer uma serenata. Hoje em dia, ninguém mais faz serenata, o senhor sabe. Uma tristeza. Mas naquela época... Nem sempre dava certo: uma vez, meu avô descobriu um moço que vinha fazer serenata na nossa janela. O pobrezinho voltou para casa molhado e sem cantar... E virou assunto na cidade.

Porque todo mundo sabia de tudo, sabe? Eu, certa vez, começaram a me chamar de Sabiá. Porque eu vivia cantando, e por causa dos concursos. Depois eu parei, só cantava em casa, para os conhecidos.

Mas aí foi na época em que um moço começou a me visitar, o senhor entende? Um moço muito direito, minha família toda gostava muito dele. E ele gostava de bolo de chocolate. Desde uma vez em que minha mãe tinha feito bolo de chocolate e ele adorou. Mas, na mesa, ele não tirava os olhos de mim. E eu ficava arrepiada quando ele me olhava...

Foi então que eu aprendi a fazer bolo de chocolate. E ele continuou gostando cada vez mais...

Ainda tenho tanta saudade do pai das minhas filhas, sabe? Mas a vida mudou tanto! Quase nem me reconheço.

Ah, está satisfeito? Quer mais bolo? Pode ficar à vontade, seu moço, tem coisas que não mudam. Está vendo como minha filha não tira os olhos dos seus?
texto e fotografia por Eduardo Trindade

domingo, 19 de outubro de 2008

De pontes e de balsas


Punha-se a pensar durante horas,
indeciso.

Quem viajaria mais longe:

As balsas infatigáveis
que desciam o rio?

Ou as pedras imóveis
da ponte sobre o rio
que, nos pés de tantos andarilhos,
conheciam lugares nunca sonhados?

Nas viagens das balsas
o sonho das pedras...
E se o sonho das balsas
fosse descansar um dia?

Os dias passavam,
indo e vindo,
embalados pela velha inquietude humana.
fotografia e palavras por Eduardo Trindade

sábado, 11 de outubro de 2008

Pequeno Conto Diluído

Assistia à lenta difusão das folhas de chá na xícara.

Queria que o telefone tocasse, mas ele não tocava nunca. A televisão ligada disfarçava o silêncio.

No quarto, uma criança começava a esquecer o rosto de seu pai.

A água do chá se coloria em contato com as folhas.

Queria esquecer tudo. Lavar com aquela água quente as dores recentes. Mas a água estava quente demais, as dores eram recentes demais, e seus dedos queimavam.

Já se esquecia do jeito que o marido tinha de partir o bolo com as mãos, dos farelos que caíam e das discussões inúteis pelos farelos espalhados. Mas não queria se esquecer do chá repartido nas tardes de sábado – acompanhamento silencioso das brigas pelo controle remoto.

Por que aquele futebol de domingo à tarde na televisão sempre a irritara tanto? Agora, era com saudade que se lembrava dos gritos de gol que ecoavam pela casa.

No fundo da xícara, restava um punhado de folhas inúteis. Folhas que formavam o desenho de não-vês-que-sinto-a-tua-falta? Sentimento que insiste em não se diluir.

Mas o fantasma que se difunde nas frestas da porta e da memória está cada vez mais distante. Sabe que ele não voltará.

Para disfarçar o silêncio, coloca mais açúcar no chá.

Um grito de gol se espalha na televisão. Mas o telefone, como o coração, continua mudo.

palavras e imagem por Eduardo Trindade

sábado, 4 de outubro de 2008

Canção de mim e de ti

Como quem caminha sem rumo
Caminho para ti.

A flor do poema se abriu
E, com ela, as cores
E os espinhos do dia.

Como quem amanhece sozinho
Amanheço em ti.

A primeira nuvem do dia
É pequena, branca, fofa
E também nublada.

Como quem sonha acordado
De espada em punho
Sonho para ti.

Quantos dragões ainda
Será preciso vencer?

Como quem ama baixinho
Afasto-me de ti.

A canção que sussurra agora
É flor, poema, nuvem, espada.

Como quem enlouquece devagarzinho
Entrego-me a ti.

versos e fotografia por Eduardo Trindade

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Além dos Livros de História

Sabe essas cidades
em que as calçadas de pedra
falam?

Pois descobri uma cidade
em que as paredes
é que sussurram,
atrás das portas fechadas,
beijos longínquos.

Eu te faço, então, o convite
para um novo beijo
no ritmo daqueles tantos
beijos de outras eras
- infinito.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Busca


Em vão procuro
o eco de teus beijos
no silêncio de teus passos.

O relógio não pára.

sábado, 2 de agosto de 2008

As Valsas Invisíveis

Hoje eu tenho uma novidade das boas: depois de alguma expectativa, estou lançando meu primeiro livro, As Valsas Invisíveis.
O estilo do livro é o que alguns de meus amigos e leitores já conhecem - aliás, alguns textos dentre os que eu listei aqui há alguns dias efetivamente fazem parte do livro.
E mais notícias boas: o lançamento será no dia 15, com uma sessão de autógrafos na Bienal do Livro de SP! Assim, fica desde já o convite a quem puder aparecer. A presença de cada um será um grande prazer! Aos que não puderem, fica, mesmo assim, o convite para prestigiar minha obra e divulgar para possíveis interessados.
Então, vamos lá:
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O quê: sessão de autógrafos de As Valsas Invisíveis, livro de estréia de Eduardo Trindade
Quando: 15 de agosto às 15h
Onde: Bienal do Livro de SP – Anhembi – estande da editora LivroPronto, na esquina da rua M com a av. 6
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Assim que o livro estiver à venda, prometo voltar a informar.
E espero que torçam para que dê tudo certo!

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Canção Vagarosa


Vejo-te despercebida
do mar em que navegas.

Vagas vagarosa
em vagarosas vagas.

Uma flauta quebrada
no alto do mastro

sopra a canção despercebida
do vento vagaroso.

Vejo-te navegante
de uma canção do vento.

Sonho-te vislumbrando
o dia que já vem.

sábado, 12 de julho de 2008

Diana

Diana, a caçadora,
sustém o arco
contra seu maior inimigo
e o tiro sai ágil, certeiro,
fatal.

Pobre Diana!
Na pressa, tomara por engano
uma das setas encantadas
de seu sobrinho,
Cupido.

Texto e foto: Edu Trindade
Licença poética: a retratada é, na verdade, a ninfa Eco, apaixonada por Narciso

domingo, 22 de junho de 2008

Ave de Arribação


Gosto de deixar a interpretação das minhas obras a cargo de quem as observa. Neste caso, o título é uma pista, chamando a atenção para a ave que paira sobre a cena. Sendo de arribação, ela alçou vôo vinda do solo; as cores também mostram isso, com o tom da ave "pertencendo" à paisagem de tons quentes. Tons quentes, mas entre os quais só se vê as pequenas formigas. O que terá levado a ave a querer sublimar este espaço?

sábado, 8 de março de 2008

Sensorialidades

Qual a cor da tua pintura
Quando não há ninguém olhando?

Qual o perfume do teu colo
No instante em que a chuva começa?

Que toque tem o mar
Com suas ondas e espumas
Quando nele ninguém se banha?

Deixa-me chegar mais perto:
Quero saber o que diz a rosa
Quando ninguém está ouvindo.

E a rosa:

“Qual o gosto do teu beijo
Roubado assim de repente?”

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.fotografia e versos (do livro As Valsas Invisíveis) por Eduardo Trindade

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Memórias a cores





Numa conversa com a Anitha (a moça da minha cartola mágica favorita), exploramos o assunto da pintura, especialmente o quando e como começar a pintar. Então eu prometi, e estou cumprindo agora, mostrar alguns trabalhos mais antigos.
Aqui estão quatro pinturas que ilustram um pouco a minha “evolução”. São todas de 2004, em papel, imediatamente antes de eu começar a me dedicar a telas e tinta acrílica – meu material preferido atualmente. Explorei desde uma imagem quase que completamente abstrata (o título da primeira é “Jardim”) até uma bem figurativa (a quarta delas é uma paisagem de Saquarema, no litoral fluminense); comecei com cores mais puras e depois fui me aventurando a misturá-las; e alternei imagens que tinha visto ao vivo com outras que descobri em meus sonhos.
E, lógico, uma das muitas conclusões que me vieram é de que esses sonhos valem a pena! Quem mais se atreve a sonhar também?

domingo, 6 de janeiro de 2008

Ideografia


Outro pequeno quadro, quase uma brincadeira. As cores, quentes e vibrantes, fornecem o pano de fundo, mas não mais que isso. Imaginei, a princípio, ideogramas de uma língua misteriosa. Porém, os "ideogramas" logo ganharam uma espécie de vida própria e o movimento característico (pressentido mas não realmente observado) de personagens de uma singela história em quadrinhos...