terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Navegar é preciso

Estas conchas que parecem perdidas
na areia da praia
são garrafas com mensagens
não de antigos naufrágios
mas de paixões misteriosas.

Experimenta aproximá-las do ouvido.
Escuta?
As conchas que vão dar na praia
contêm o eco das sereias.

Dizem que é preciso
ser muito louco
ou muito corajoso
para atender seu chamado

e que cada concha tem um timbre único
à espera de seu navegador particular.

Ouves, pescador, este lânguido lamento
nas ondas do mar?
É uma sereia suspirando
com medo de ser esquecida.

Paciência, querida,
a maré está mudando,
estou enfunando as velas,
decorei o mapa das ondas
e embalado pelo teu canto
conto com o gosto molhado
de um beijo de espuma.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sete vezes sete

Hoje vou dar um tempo à minha escrita habitual e enveredar por outro caminho. Já disse antes que não me sinto à vontade com muitas das correntes que circulam na blogosfera; mas faço uma doce exceção quando não se trata de correntes, mas de gente querida. Nas últimas semanas, andei recebendo presentes-surpresas que quero retribuir agora, embora com algum atraso.
Primeiro Yara, a criativa e impagável amiga do Dueto de Um que tenho o prazer de conhecer pessoalmente apesar de ela morar quase no outro extremo do país, citou este blogue e fez um convite para o “Desafio dos Sete”.
A Marina, do blogue Do Fundo do Mar, lembrou de mim de uma forma muito carinhosa ao falar do Selo de Qualidade. Ainda não conheço pessoalmente a Marina, mas pelos textos já tenho certeza de que temos muito em comum.
E a Aline Veingartner escreveu uma legítima e adorável crônica (ou resenha) a respeito do meu livro e dos meus textos. Fiquei todo prosa quando li a homenagem dela! Ainda mais porque essa guria também é escritora e eu diria que muito talentosa e promissora.
Obrigadíssimo, de coração!
O que escrevo a seguir é parte do “Desafio dos Sete”, que escolhi para dar sequência, do meu jeito, a esta brincadeira. O desafio consiste em dar sete respostas às sete questões que vocês lerão. Pois aí está. Para algumas das perguntas eu teria bem mais de sete respostas, poderia escrever páginas e páginas... Para outras, já é bem mais difícil. Enfim, só vou abrir mão de indicar mais sete blogues para seguir o desafio, como era o pedido original: eu volta e meia recomendo, aqui, no Twitter ou mesmo pessoalmente, os blogues de que gosto, mas não quero que ninguém se sinta forçado a nada. Quem quiser, fique à vontade para aceitar o “Desafio”!

7 coisas que tenho que fazer antes de morrer:
- compor uma canção;
- dar a volta ao mundo;
- passear uma noite numa ger (tenda) mongol;
- fazer amor à luz da lua;
- morar numa casa com jardim, horta, pomar, animais;
- velejar até Fernando de Noronha;
- vestir-me de Papai Noel.

7 coisas que mais digo:
- Bah!
- As coisa são difícil. (sic – é uma piada interna, bem entendido)
- Douze. (sic – outra piada interna)
- Desculpa. (mesmo quando não tenho motivo para me desculpar)
- Bom dia,
- Por favor,
- Obrigado – e todas as outras palavras que me fazem parecer um menino educado.

7 coisas que eu faço bem:
- chimarrão;
- andar em casa de olhos fechados;
- relembrar momentos obscuros da infância;
- improvisar (sim, eu assistia McGyver);
- encontrar o lado positivo de qualquer situação;
- encontrar relíquias num sebo;
- planejar viagens que parecem um quebra-cabeças logístico.

7 defeitos meus:
- não saber dizer “não”;
- deixar de dizer coisas que deveriam ser ditas;
- preguiça quase insuperável na hora de fazer faxina;
- a arte da procrastinação;
- inacreditável falta de talento musical;
- inacreditável falta de talento para a dança;
- insistir em tocar e dançar apesar dos dois itens anteriores.

7 coisas que amo:
- livros;
- um barco a vela;
- um leve toque de exotismo no tempero da comida;
- chás;
- viagens;
- as pessoas, paisagens, coisas, histórias e sabores que encontro quando viajo;
- elogios espontâneos.

7 qualidades minhas:
- habilidade com números;
- habilidade com letras;
- criatividade;
- sinceridade;
- senso de justiça;
- objetividade (quando vem ao caso);
- e subjetividade (também quando vem ao caso).

7 blogues indicados:
- conforme expliquei acima.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O Sol da Meia-Noite










Não é da noite que tenho medo
nem da escuridão,
sei que a noite eu posso passar contigo
e que no escuro posso te procurar,
ousado,
como amante despudorado
ou como criança indefesa...

Não,
não tenho medo da ausência,
sempre há um tempo de luz depois da ausência,
confio no reencontro:
na mútua sedução de nossos olhares
que hão de se atrair
e, se não funcionarem,
é porque não era mesmo para ser assim.

Tenho medo é de que o dia não termine.
De que a luz não dê tréguas.
Por quanto tempo vais desejar minha presença
se não pudermos fechar os olhos?
Preciso da ausência
como preciso da noite e do escuro
para mostrar que, mesmo perdido,
procurarei teus braços
e encontrarei teu corpo
e teus afagos.

A insegurança atiça meu desejo.
Tenho medo destas latitudes polares
em que o sol sempre brilha
porque nelas também vive a ameaça
da noite eterna.
Eterna? Tenho medo da eternidade
quando vem disfarçada de monotonia.

Quero o sol da meia-noite
como coisa inusitada e bela e inesquecível
a desafiar os medos todos
meus e teus,
quero, estando contigo,
perder a conta das horas
e acordar cego de paixão
e acordar louco de prazer
num tempo de renovação.

Versos e fotografia (pôr-do-sol sobre as nuvens em algum ponto perto da Escandinávia) por Eduardo Trindade