sábado, 29 de outubro de 2011

Travessia

Que o poema seja livre
como uma travessia de veleiro.

Que o travesseiro seja porto,
princípio e meio.

Mergulhemos na cama
como quem viaja.

Mudos ou loquazes:

qualquer suspiro é um mundo
para quem sonha.


Eduardo Trindade

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Sabiá

Alguém dirá
“Não é de ti que tenho saudades,
mas do mundo que representas.”
Será dito
“Quem dera não mudasses,
eu permaneceria o mesmo.”
Há quem não admita a mudança
e mude sem perceber.
Está escrito
“Quem espera sempre alcança”,
mas podem tudo as palavras,
não as pessoas.
“Esperarei”,
e espera-se demais
ou espera-se de menos.
Na despedida:
“Eu te amarei para sempre.”
Sempre distante de quem se amou,
distante ainda mais de quem se julga amar,
há quem pense sem dizer
e há quem fale sem pensar.
Lá fora, há de cantar
um sabiá.

Eduardo Trindade