Hoje faz anos que te foste. Aniversarias. Comemoro? Certas datas não se comemoram, por mais marcantes que sejam, ou surpreendentes, ou inebriantes. Não me acostumei ainda ao silêncio da tua cadeira de balanço. Lembras como balançavas, e rangias, e fazias tremer o assoalho? É difícil se acostumar a certas ausências. Pensava que durarias para sempre, mas ensinaste que nada é para sempre. Ensinaste da maneira mais dolorosa.
Lembras-te das nossas brincadeiras? Eras criança em teu corpo de vovó. Eras a criança mais travessa dentre todos nós. Mas os adultos confiavam em ti, confiavam-nos a ti. Mal sabiam que rolavas conosco pelo chão, empanturrava-nos de doces e inundavas a casa em guerras d’água. Quando voltavam, tu inventavas histórias para tranquilizar os adultos! Éramos todos anjinhos.
És hoje o meu anjinho. Não sei, para falar a verdade, quando é o aniversário da tua partida. Sem tua presença, os dias se confundem. E eu, sem ter uma criança-adulta com quem brincar, acabei crescendo. Virei um adulto procurando em mim a criança que foste. Brinco em tua homenagem, faço traquinagens à semelhança de ti. Lembranças? Esforço-me para não esquecer, e de repente te ouço no rangido do assoalho quando atravesso a noite. Buscando me encontrar, reencontro-te.
Eduardo Trindade