quarta-feira, 23 de junho de 2010

Álbum de Figurinhas

Mais uma parceria: o blogue Ensaios em Foco publicou uma crônica de minha autoria.

Álbum de Figurinhas
Hoje, indo para o trabalho, passei em uma banca de revistas e comprei um álbum de figurinhas. Um álbum e, claro, alguns pacotes de figurinhas. Em casa, vou me sentar no sofá da sala, abrir os pacotinhos um a um e colar cuidadosamente cada cromo no seu espaço designado. Serei criança.
Não tenho outras crianças em casa além de mim. Isso significa que precisarei sair para a rua em busca de alguém para trocar minhas figurinhas repetidas. Talvez eu sente em um banco da praça e as coloque em jogo numa disputa de bafo. Ou me abaixe num canto da mesma praça e aposte tudo numa partida de bolita.
(...)

Quem quiser ler o texto completo, é só dar um pulo aqui.

sábado, 19 de junho de 2010

Ode a José Saramago

“Quem sabe se um dia virei a ler outra vez esta história, escrita por ti que me lês, mas muito mais bonita?”
José Saramago (1922-2010), A Maior Flor do Mundo

Criou uma mulher que via por dentro da gente, ela olhou-o e disse, És puro e bom. Ele replicou, Não posso ser puro porque não há quem seja puro, e bom, há quem não concorde, pois polemizo. Voltou a mulher, Gostaria que houvesse mais polemizadores, ou mais desassossegadores, como dizes. Porém, sendo eu mesmo um desassossegado, não tenho descanso, Por que escreves, então, Tu o sabes quando me vês por dentro, assim como sabes que há coisas que não se explicam, apenas se sentem e se fazem. Ele se despediu com um olhar e voltou a mergulhar nos livros da biblioteca, mas a mulher insistiu, Ensina-me a escrever, Eu te criei para que visses, não para que escrevesses, Mas também eu quero desassossegar, Criei-te humana, portanto devias querer antes conforto que desassossego, És mais humano que eu, De nós dois, quem é o autor e quem a personagem, O criador é filho da criatura. A mulher então levou-o para ver o mar, o mar por onde tinham passado as caravelas, e insistiu, Sei que gostas do mar, Gosto de tudo que é caminho, principalmente os que não estão prontos, Por isso gostas do mar, Sim, gosto, E quando te fores por estes caminhos, quem vai escrever a tua elegia, ensina-me a escrever para que eu a escreva, Não gosto de elegias, Uma ode, então, Mas por que iria eu querer uma ode, por que iria querer sossego, Quem sabe o que podemos querer amanhã, não fosse o futuro o princípio do desassossego, Argumentas bem, Aprendi contigo, E se eu me recusar a que tu escrevas, Então te darei um barco, Por que um barco, Porque precisas procurar a ilha, tu bem o sabes, Que ilha, A ilha desconhecida, a ilha que terás e terei como ode, sonho e, enfim, sossego.


Escrito em lembrança de um dos escritores que mais me marcou. Ficou o estilo que lhe era peculiar. Muitos terão entendido as minhas referências neste pequeno ensaio; para quem quiser procurá-las, estão principalmente em Memorial do Convento e O Conto da Ilha Desconhecida.

Eduardo Trindade

domingo, 13 de junho de 2010

Poema do Dia de Santo Antônio


A vendedora de flores,
senhora dos sentimentos alheios,
queria tanto ganhar uma rosa!

Uma prenda anônima, ainda que fosse...


Texto e imagem (rapariga das flores em Ponta Delgada)
por Eduardo Trindade

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Do que aprendi com o mar

Um mundo.
Onde, de todos os dias iguais,
nenhum é igual ao outro. Ondas.
Maré e correntes, vai e vem, ficar, ir e voltar.
O mar. As portas do cais, sonhar, para onde?
O sal do azul que ensina a verter lágrimas,
lágrimas que ensinam a ter coragem.
Gaivotas. Voar? O mar, o ar.
E o vento. Sopro, brisa, as velas estendidas
como braços. Abraços.
Chuva, tempestade, noite e dia, dia após dia,
a pele curtida. O sol
e as cores do sol refletidas n’água.
Águas que espelham teus olhos.
Olhos onde ancorei meus sonhos,
os sonhos que aprendi com o mar.




versos e fotografia por Eduardo Trindade