sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Selos

Recebi diretamente da blogosfera mais dois selos - gentileza de duas colegas escritoras virtuais e leitoras deste espaço.
O primeiro veio da Flávia Rocha, que tem um blogue voltado para o cotidiano, bem ao estilo de um caderno de notas:


E este aqui foi oferecido pela Ana Raquel, do E depois parecia que (...), outro blogue gostoso de se ler, que combina poesia e crônicas cheias de sentimento:

Muito obrigado!

domingo, 25 de janeiro de 2009

Passeio da menina pela cidade


A pequena menina
de olhos redondos
com a boneca nos braços
encara o prédio gigantesco.

A cidade é um mundo.

Os carro passam
zunindo,
abelhas paquidérmicas.

As pessoas se apressam,
a cidade é um formigueiro.

O prédio cruza os braços:
o gigante assusta.

A menina de olhos redondos
fotográficos
registra lembranças
com a curiosidade dos pequenos.

Os olhos da boneca se abrem,
piscam.
De frente para o prédio
gigante de concreto,
a menina de mãos na cintura
mostra a língua.


texto e imagem por Eduardo Trindade

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Rosa

Encontrou de repente uma rosa solitária no banco da praça.
Poderia ter imaginado mil histórias. Quais mãos colheram aquela rosa, com delicadeza ou com displicência. Se a rosa trocara de mãos, e quantas vezes, vendida, comprada, transportada, exposta juntamente com outras iguais a ela. Todas diferentes. Com que zelo fora finalmente escolhida por mãos trêmulas. Se fora oferecida como uma lembrança gentil. Quem a recebera. Mãe, filha, irmã, namorada. Pai, filho, irmão, namorado. Talvez tenha estado num vaso colorido. Ou não saído nunca daquela praça. Pode ter inspirado um poema. Ou lembranças. Pode alguém ter aspirado o seu perfume. Quem sabe a pintaram em um quadro. Alguém sorriu ao recebê-la. E agradeceu por ela com um beijo. Talvez tenha sido mais de um beijo. Mais que um beijo. E se houve uma discussão, e no calor da briga a rosa ficou esquecida. Para nunca mais. Mil histórias.
Mas não deu atenção à rosa, que permaneceu esquecida, e seguiu seu caminho, feito de mil outras histórias que nunca chegaram a se cruzar.

imagem e palavras por Eduardo Trindade

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Das lembranças aleatórias

Fui convidado a elaborar uma lista de curiosidades aleatórias sobre eu mesmo. (*) A princípio, fiquei em dúvida sobre se deveria escrever e o que escrever, pois já não sou muito fã de listas. Mas resolvi aceitar a proposta ao pensar que, afinal, era uma oportunidade para reviver algumas das pequenas lembranças que valorizo tanto.

Um. Apesar de a Copa do Mundo de 1990 ter sido a primeira que eu realmente acompanhei, minhas lembranças futebolísticas mais antigas são alguns flashes da Copa de 1986. Lembro particularmente do jogo decisivo em que o Brasil foi desclassificado: alguém me explicou que o Brasil havia perdido e eu fui para o meu quarto, triste, chorar em silêncio. Naquela época, a felicidade se resumia a coisas como um jogo de futebol. Então, sentado no chão do quarto, criei minha própria partida com bonecos de Playmobil e, nela, o Brasil ganhava da França. Era uma época em que uma brincadeira podia mudar o mundo... (Apesar disso, já vão décadas e a França continua entalada na garganta dos brasileiros, ao menos em matéria de futebol.)

Dois. Houve uma época em que eu pensava que o número dois me perseguia. Ansioso por achar curiosidades e coincidências, eu atribuía um número a cada letra do alfabeto, em ordem crescente, e somava as letras do meu nome até que restasse um único algarismo. O resultado era dois (agora que acrescentaram k, w e y ao nosso alfabeto o resultado é outro, mas antigamente era dois). Dois foi a minha colocação nos dois vestibulares que fiz na vida. E dois também foi a minha colocação no concurso público que me trouxe ao Rio.

Três. Eu escrevi meu primeiro livro antes de aprender a escrever. Assim: ainda pequeno, eu já estava fascinado por aquele mundo de histórias misteriosas e encantadas que se escondia nas palavras e, claro, nos livros. Peguei então papel e lápis e me sentei para registrar, eu mesmo, uma história. Como eu não conhecia o segredo das palavras, fui copiando ao acaso todas as que encontrava e que na verdade eram, simplesmente, marcas e letreiros que eu via: Coca-Cola, Bic, Philips, CCE, Saída, Banheiro... Nos espaços em branco da folha eu desenhei as ilustrações. Um adulto que parasse para ler via apenas palavras soltas, mas eu narrava, empolgado, a história que havia criado.

Quatro. Certa vez, percebi que o material em que eu levava a merenda para a escola tinha as iniciais E.T. gravadas a caneta. Fiquei muito intrigado. Então me explicaram que estas letras estavam lá porque assim ninguém roubaria ou pegaria meu material por engano, afinal todos teriam medo de que se tratasse dos objetos de um extraterrestre. Eu mesmo passei a ter medo... Até que, muito tempo depois, descobri que eram as iniciais do meu próprio nome, Eduardo Trindade. Sou, incontestavelmente, um E.T.

Cinco. Eu adorava assistir à Fórmula 1. Em 1994, assisti a todas as corridas, menos uma: no dia em que morreu Ayrton Senna, eu estava em Vale Vêneto, distrito de São João do Polêsine, um vilarejo perdido no interior do Rio Grande do Sul. Um local tão diferente e tão distante da minha realidade urbana que, quando chegou a notícia, ela pareceu irreal, fantasmagórica, simplesmente não fazia sentido. Só fui entender do que se tratava à noite, quando voltei a Porto Alegre.

Seis. Eu já fiz torradas (mistos-quentes) usando um ferro de passar. Quando me mudei para o apartamento em que estou hoje, não havia gás e a instalação demorou a ficar pronta. Eu também não possuía forno de microondas. Então, depois de algumas semanas dependendo principalmente do frango assado da padaria da esquina, e já não aguentando mais ter só comida fria em casa, comecei a ver com outros olhos aquele instrumento produtor de calor, o ferro de passar roupa. E ele, devidamente coberto por uma folha de papel-alumínio, desempenhou com eficiência a função de uma chapa de aquecimento de sanduíches. Torradas quentinhas prensadas na hora...
(*) Na chamada blogosfera, um meme é uma espécie de corrente que circula convidando os autores a escrever sobre determinado tema. Este me chegou através da Flávia Rocha e funciona assim:
Seis Coisas Aleatórias - regras
1. Lincar a pessoa que te indicou.
2. Escrever as regras do meme em seu blogue.
3 - Contar 6 coisas aleatórias sobre você.
4 - Indicar mais 6 pessoas e colocar os respectivos links.
5 - Deixar a pessoa saber que você a indicou, deixando um comentário para ela.
6 - Deixar os indicados saberem quando você publicar sua postagem.
As minhas indicações são:

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Loucura?


...E se acontece de sermos
todos
....................Dom Quixote
em busca de nosso moinho
particular?
.
.
.
palavras e imagem por Eduardo Trindade

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Tanto mar

Foi bonita a festa, pá,
Fiquei contente (...)
Chico Buarque
.
É a noite do dia 31 de dezembro. As ondas do mar estouram na praia. Promessas de Ano Novo ondulam, crescem, estouram nas bocas todas. Garrafas de espumantes, genéricos ou não, estouram nas mãos ansiosas. Pétalas escorrem dos braços para Iemanjá.
Pipocam boas intenções e promessas de tudo mudar. Desejos de paz a novos conhecidos e velhos desconhecidos.
Vem e passa a contagem regressiva. Os fogos de artifício estouram, preenchem o ar. E abraços preenchem os espaços. As garrafas se derramam todas, agora, ao mesmo tempo. Mas o que sobra das bolhas de espuma quando estouram?
No dia seguinte, quem ainda se lembra dos abraços dados e desejados?
Ao menos o mar, o doce e indócil mar, tem ondas e espumas que seguem estourando amanhã, e depois, e além...
Dá-me, moça de espuma, um beijo doce e indócil a cada suspiro do mar... Em cada ano que ainda vai chegar.
Texto e fotografia por Eduardo Trindade