sexta-feira, 27 de março de 2009

Ilha

O vento sopra nas pedras
acariciando mexilhões
como quem dedilha uma flauta.

O vento ensina canções às gaivotas.

As gaivotas mergulham n’água
como quem desce ao sonho
de um abraço bem dado.

O mar beija a areia
como quem ama indistintamente
todas as pedras da praia.

Ilha, beijo que não acaba,
que é sempre uma procura...

O mar suspirava continuamente
ouvindo as doces cantigas
que o vento ensinava às gaivotas.


imagem e versos de Eduardo Trindade

sábado, 21 de março de 2009

De Carmen Miranda ao Big Brother

Teus modos
de
pin-up
– pinape –
pineapple
um abacaxi
para quem já foi
orgulhosamente
banana-da-terra.

versos e fotografia por Eduardo Trindade,
num dia em que me lembrei de Sophie Bordeaux/Yara B. poetando.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Vale a pena acompanhar


Recebi mais um selo de reconhecimento. Este vem da Hortência Caravante, que mantém um blogue variado, com uma poesia bastante intensa e pessoal, além de algumas crônicas e canções. Obrigado, Hortência, pela citação e por dividir conosco o teu espaço!
Como é hábito na blogosfera repassar estas indicações (coisa que eu não costumo fazer, confesso), aproveito o espaço para falar um pouco de alguns endereços que costumo acompanhar. Porque, afinal, são muitos os que ousam valsar neste mundo afora...
Há vida em Marta: Marta tem me surpreendido continuamente. Primeiro com seus textos muito bem escritos e criativos, dosando humor, desabafo, nostalgia e o que mais há quando há vida. Depois, como se não bastasse, com uma mão amiga e sempre gentil que cativaria qualquer um. Vale a pena acompanhar!
Mariposando: da Ariane, um endereço com poesia pura de ótima qualidade. Basta entrar no salão de dança da poetisa-mariposa para respirar poesia. E, para quem gosta tanto quanto eu da arte das palavras, vale a pena acompanhar!
Viajar pela leitura: da Paula, que escreve sobre uma de minhas maiores paixões, ou seja, livros. Para quem procura críticas (no melhor sentido da palavra) e sugestões de leitura, é o lugar certo. Vale a pena acompanhar!

sexta-feira, 13 de março de 2009

Tempo de ausências

Ausente de mim o grito que irrompe das pedras.
O grito que rompe as pedras
e convida ao voo. Ausente está.
Medo de voar nesta ausência sufocante.
A amplidão oprime. Falta um caminho
na infinitude de caminhos.
Inaudível. Procuro sons no silêncio.
Um eco que guie. Uma memória que vibre.
O grito. Impossível. Ausente. Onde.
Aonde voar sem o bater das asas,
onde reverberar nesta planície de vazio,
como ouvir o chamado do silêncio.
Cansado de guiar, de gritar. Ausente de mim
o grito. Não o encontro. Não encontro.
Cerro os olhos e busco um ombro.
Uma mão. Tateio o solo e busco passos.
Nunca passaram. Não por aqui. Ausência.
O passado não importa. Não mais.
E o futuro. Voar. Para onde não sei.
O convite é nada. O braço nada. Não sei.
Falta força. De pedra. Das pedras
emana esse mundo cru e denso e intenso
num silêncio imóvel e insípido.
Tudo contém. Mundo esse feito
de todas as possibilidades. E basta.
Basta-se. Basta-me. A voz não falta
a quem sabe escutar. O chamado. O grito.
Irrompe das pedras, imóvel, em silêncio,
o convite eterno e forte e inapelável
do tempo que simplesmente é.
por Eduardo Trindade,
numa sexta-feira 13 de trovões sobre a Cidade Maravilhosa

domingo, 8 de março de 2009

Asas

Menina de olhos medrosos
vivia brincando de boneca,
tinha vontade de voar
mas não tinha asas.

Tantas bonecas depois
a menina cresceu,
o medo cresceu,
cresceu a vontade de voar.

Um dia, um aperto no peito
explodiu em forma de beijo
e a menina feita moça
descobriu as asas que tinha.


Por Eduardo Trindade, no dia daquelas que, sim, têm asas.

this poem in English

quarta-feira, 4 de março de 2009

Moda da estação


Busquei-te vestida de escuro.

Encontrei-te coberta de sorrisos

tantos que eu não imaginaria.


Tu me quiseste vestido de palavras.

Mas, como eu trajava silêncio,

passaste sem me reconhecer.




fotografia e imagem por Eduardo Trindade (ou seria um eu-lírico?)


in italiano / en español