Ausente de mim o grito que irrompe das pedras.
O grito que rompe as pedras
e convida ao voo. Ausente está.
Medo de voar nesta ausência sufocante.
A amplidão oprime. Falta um caminho
na infinitude de caminhos.
Inaudível. Procuro sons no silêncio.
Um eco que guie. Uma memória que vibre.
O grito. Impossível. Ausente. Onde.
Aonde voar sem o bater das asas,
onde reverberar nesta planície de vazio,
como ouvir o chamado do silêncio.
Cansado de guiar, de gritar. Ausente de mim
o grito. Não o encontro. Não encontro.
Cerro os olhos e busco um ombro.
Uma mão. Tateio o solo e busco passos.
Nunca passaram. Não por aqui. Ausência.
O passado não importa. Não mais.
E o futuro. Voar. Para onde não sei.
O convite é nada. O braço nada. Não sei.
Falta força. De pedra. Das pedras
emana esse mundo cru e denso e intenso
num silêncio imóvel e insípido.
Tudo contém. Mundo esse feito
de todas as possibilidades. E basta.
Basta-se. Basta-me. A voz não falta
a quem sabe escutar. O chamado. O grito.
Irrompe das pedras, imóvel, em silêncio,
o convite eterno e forte e inapelável
do tempo que simplesmente é.
por Eduardo Trindade,
numa sexta-feira 13 de trovões sobre a Cidade Maravilhosa