Saí de casa para retirar o lixo, como de hábito. Caminhei alguns metros e depositei o saco junto a outros, que seriam recolhidos pelo lixeiro, como de hábito. E, como de hábito, às vezes reparo em coisas simples que estão à minha volta.
Foi assim que percebi que, entre os tantos sacos de lixo depositados pelos meus vizinhos, havia um pequeno volume. Um livro. Sartre.
Sartre, o famoso filósofo e escritor francês, que venceu e recusou um Prêmio Nobel, dormia junto com o lixo a alguns passos de minha casa.
Verdade que não se tratava da sua faceta mais notória, que lhe deu garantiu o reconhecimento como intelectual e ativista, mas de uma obra póstuma relativamente obscura. Ainda assim, era um livro. No lixo.
O que eu fiz, penalizado com aquele destino inglório, foi obedecer a um impulso: resgatei o livro e levei-o para casa. Para minha sorte, o volume estava coberto por uma espécie de capa que o protegia da imundície. Um volume usado e manuseado, sim, mas ileso.
O livro, como qualquer outro, permitia diferentes leituras. Neste caso, não tenho dúvida de que a principal delas é: o que fazia um livro no meio do lixo? Quem o teria largado ali? Embora estivesse protegido pela tal capa, não acredito que a intenção fosse colocá-lo à disposição de outro leitor, afinal uma montanha de lixo é uma biblioteca bastante improvável. Não. Eu me espantei foi com o simbolismo da cena. É preciso coragem para lançar livros ao lixo neste mundo tão carente deles. Ou então despeito: os filósofos, como se sabe, não têm fama de simpáticos. Pelo contrário, costumam ser densos, pesados e carrancudos. Ao lixo, então, com eles! Melhor seria talvez se fizessem uma fogueira: não haveria vestígios do sumiço nem intrometidos como eu dispostos a resgatar livros da lixeira.
Foi assim que percebi que, entre os tantos sacos de lixo depositados pelos meus vizinhos, havia um pequeno volume. Um livro. Sartre.
Sartre, o famoso filósofo e escritor francês, que venceu e recusou um Prêmio Nobel, dormia junto com o lixo a alguns passos de minha casa.
Verdade que não se tratava da sua faceta mais notória, que lhe deu garantiu o reconhecimento como intelectual e ativista, mas de uma obra póstuma relativamente obscura. Ainda assim, era um livro. No lixo.
O livro, como qualquer outro, permitia diferentes leituras. Neste caso, não tenho dúvida de que a principal delas é: o que fazia um livro no meio do lixo? Quem o teria largado ali? Embora estivesse protegido pela tal capa, não acredito que a intenção fosse colocá-lo à disposição de outro leitor, afinal uma montanha de lixo é uma biblioteca bastante improvável. Não. Eu me espantei foi com o simbolismo da cena. É preciso coragem para lançar livros ao lixo neste mundo tão carente deles. Ou então despeito: os filósofos, como se sabe, não têm fama de simpáticos. Pelo contrário, costumam ser densos, pesados e carrancudos. Ao lixo, então, com eles! Melhor seria talvez se fizessem uma fogueira: não haveria vestígios do sumiço nem intrometidos como eu dispostos a resgatar livros da lixeira.
Por Eduardo Trindade.
Crônica publicada também no jornal O Globo de 31/8/09.