A humanidade pode ser dividida em dois grupos: os que, lendo um mapa, preferem deixar o norte no topo e os que gostam de girar o mapa para alinhá-lo com a posição real dos pontos cardeais.
Pesquisadores sérios já se propuseram a explicar esta diferença de comportamento. Dizem que, em geral, são as mulheres que se sentem mais desconfortáveis ao ler um mapa e as que mais fazem questão de girá-lo até alinhar o norte do papel com o norte que têm à sua frente. Os homens, neste sentido, teriam melhor senso de orientação espacial (embora, por outro lado, perderiam para as mulheres na orientação em espaços fechados, quando procuram algo dentro de casa, por exemplo).
De maneira geral, eu me encaixo bem nesta média. Gosto de mapas, e não preciso girá-los de ponta-cabeça quando procuro uma rua. Mais do que gostar de mapas, gosto de colocar meu senso de orientação à prova quando chego exploro uma cidade nova. Como viajante, um dos troféus particulares que guardo foi ter desembarcado em
Pequim e, munido apenas de um mapa (em mandarim, naturalmente), ter achado o caminho da pousada sem titubear nem precisar pedir informações – mais do que isso, no trajeto de metrô, conheci um chinês do interior e ajudei-o a achar seu próprio caminho. É verdade que também há situações em que não sou tão eficiente; mas, mesmo assim, não me preocupo, pois perder-se pode ser um dos grandes prazeres de uma viagem. Tanto que me incomodam um pouco as pessoas que fazem sempre questão de saber exatamente para onde estão indo.
Tudo somado, ainda não conclui se tenho ou não um bom grau de orientação – e de atenção. Eu já errei até mesmo o caminho de casa: assim que me mudei, ia passando em frente ao meu prédio sem dar por ele, e teria seguido adiante se outra pessoa não tivesse me alertado. Também já arranquei os cabelos, dentro de casa, procurando desesperadamente os óculos que estavam na ponta do nariz. Noutra ocasião, levei um bom tempo até me dar conta de que o que estava fazendo meus olhos embaçarem era o fato de que eu, esquecido de que já havia posto lentes de contato, tentava colocar os óculos por cima delas. Em compensação, costumo ser uma pessoa bastante confiável quando me pedem informação na rua, mesmo numa cidade que não seja a minha.
E quando não conheço o caminho? Recorro aos mapas, sempre que possível, e isto tem sido cada vez mais fácil com a popularização de serviços como o
Google Earth. Outro dia, quis pesquisar a localização exata de determinada rua do bairro carioca de Botafogo. O programa me mostrou a rua, entre várias das ruas principais do bairro que eu conheço bem, porém a disposição do mapa era estranhamente incompreensível para mim. Após uns minutos quebrando a cabeça, descobri que aquele não era o mapa que eu buscava: no município vizinho de Nova Iguaçu também há um bairro chamado
Botafogo e, mais do que isso, as ruas de lá têm o mesmo nome das ruas de cá. Uma homenagem? Não sei. Mas imagino que carteiros e entregadores devam sofrer com a inusitada coincidência e que os enganos não devam ser incomuns. Pudera, se um desavisado procurar seu caminho no bairro errado e homônimo, não adiantará virar e revirar o mapa...
crônica e fotografia por Eduardo Trindade