estilete de luz que me caiu às mãos.
Este poema que escrevo, que escrevemos
(pois a vida é um pergaminho desenrolado aos nossos pés),
este poema é uma sangria,
antiquada e desesperada sangria.
Mas tem dias em que a pena seca:
em vão procuro o papel, a epiderme.
O que havia da vida coagulou há tempo,
petrificou-se. E faltam lágrimas...
As lágrimas são poucas
como a garoa que evapora antes de tocar o chão.
E, se um dia acordar da febre,
não louco nem suicida, apenas humano
— exageradamente humano —
o primeiro gesto que terei
será regar o jardim de girassóis
com as lágrimas, o sangue e o riso
que brotarão, sem que eu perceba,
da folha virgem de papel fecundada
pelo amor que eu tinha guardado para ti.
por Eduardo Trindade