sexta-feira, 19 de março de 2010

Estiagem

Esta pena com que escrevo é meu espinho,
estilete de luz que me caiu às mãos.
Este poema que escrevo, que escrevemos
(pois a vida é um pergaminho desenrolado aos nossos pés),
este poema é uma sangria,
antiquada e desesperada sangria.
Mas tem dias em que a pena seca:
em vão procuro o papel, a epiderme.
O que havia da vida coagulou há tempo,
petrificou-se. E faltam lágrimas...
As lágrimas são poucas
como a garoa que evapora antes de tocar o chão.
E, se um dia acordar da febre,
não louco nem suicida, apenas humano
— exageradamente humano —
o primeiro gesto que terei
será regar o jardim de girassóis
com as lágrimas, o sangue e o riso
que brotarão, sem que eu perceba,
da folha virgem de papel fecundada
pelo amor que eu tinha guardado para ti.

por Eduardo Trindade

5 comentários:

Marina disse...

Sofrimento, escrever. Lindíssimo e inspirador, Eduardo. Beijos!

Thainá Rosa disse...

:´) Meus comentários não tem a menor graça,eu só consigo dizer que é tudo lindo!
Aaaah,esse é lindo demais! É o meu novo favorito!
Edu,quero ser igual a você quando eu crescer!

Sylvia Araujo disse...

De tantas imagens doloridas, eis que brotam os gira-sóis, e fecundam pelo amor. Passado ou presente é ele que rege, é ele que roda a roda da vida!

Beijomeupravocê

Gaby Lirie disse...

Tão lindo *.*
Como é bom encontrar essa essência de sentimentos nos poemas, esse jeito de escrever que lembra épocas passadas.
Gostei muito.


Grande Beijo!

Anônimo disse...

As vezes, mesmo não comentando, eu passo para ler esse blog.
ele é fonte de inspiração.
Abraços.