Considero-me uma pessoa discreta, não sou de grandes discursos ou exaltações. Mas aprecio certos protestos silenciosos quando vejo que há necessidade deles. Por isso é que, hoje cedo, ao sair para votar, levei comigo a bandeira brasileira e, principalmente, coloquei meu nariz vermelho de palhaço.
Em outras palavras: é claro que amo esta pátria que me viu nascer, mas talvez justamente por isso não posso deixar de me manifestar contra atitudes que considero erradas. Sem dúvida, tenho muito mais orgulho da situação econômica e política do Brasil hoje do que quando comecei a entender e a repara nisto. Mas é claro, também, que ainda há tanto a fazer, tanto...
A culpa é dos políticos, dizem. Eu até concordo. Vejo muitos deles que parecem desonestos ou francamente incompetentes, quando não as duas coisas. Mas eu me nego a jogar toda a culpa neles e lavar as mãos. Vivemos numa democracia, somos todos responsáveis. Ou nos esquecemos do próprio significado da palavra política? Somos todos políticos, nenhum homem é uma ilha. Que exemplo estamos dando em casa, o que estamos ensinando nas escolas e nas ruas? Com que cara alguém que oferece propina ao guarda pode reclamar de corrupção no Congresso? Uma pessoa que embolsa um troco dado por engano tem direito de se indignar diante de uma obra superfaturada? Alguém que fura a fila no mercado pode acusar outro que compra votos para se eleger? Quem joga papel de bala no meio da rua terá menos culpa do que quem desmata a Amazônia? Talvez não.
A sociedade é a soma de todos nós e de cada um dos nossos atos. E os políticos que elegemos são, sem dúvida, reflexo desta sociedade.
Sim, eu acho difícil votar, escolher pessoas em quem confio e que merecem me representar. Mas quem disse que deveria ser fácil? Por isso mesmo, não concordo com o voto nulo: este, que querem fazer parecer um ato de rebeldia, para mim soa mais como uma injustificável preguiça. Por mais batida que seja a frase, o voto é nossa arma. Vou além: o voto é a primeira de nossas armas. As outras, com ou sem nariz de palhaço, estão ao nosso alcance em casa, na sala de aula, no escritório, na rua. Como? Buscando a honestidade nos pequenos atos. Olhando para o espelho de cara limpa. Esta corrente, sim, eu passo adiante.
Eduardo Trindade