Considero-me uma pessoa discreta, não sou de grandes discursos ou exaltações. Mas aprecio certos protestos silenciosos quando vejo que há necessidade deles. Por isso é que, hoje cedo, ao sair para votar, levei comigo a bandeira brasileira e, principalmente, coloquei meu nariz vermelho de palhaço.
Em outras palavras: é claro que amo esta pátria que me viu nascer, mas talvez justamente por isso não posso deixar de me manifestar contra atitudes que considero erradas. Sem dúvida, tenho muito mais orgulho da situação econômica e política do Brasil hoje do que quando comecei a entender e a repara nisto. Mas é claro, também, que ainda há tanto a fazer, tanto...
A culpa é dos políticos, dizem. Eu até concordo. Vejo muitos deles que parecem desonestos ou francamente incompetentes, quando não as duas coisas. Mas eu me nego a jogar toda a culpa neles e lavar as mãos. Vivemos numa democracia, somos todos responsáveis. Ou nos esquecemos do próprio significado da palavra política? Somos todos políticos, nenhum homem é uma ilha. Que exemplo estamos dando em casa, o que estamos ensinando nas escolas e nas ruas? Com que cara alguém que oferece propina ao guarda pode reclamar de corrupção no Congresso? Uma pessoa que embolsa um troco dado por engano tem direito de se indignar diante de uma obra superfaturada? Alguém que fura a fila no mercado pode acusar outro que compra votos para se eleger? Quem joga papel de bala no meio da rua terá menos culpa do que quem desmata a Amazônia? Talvez não.
A sociedade é a soma de todos nós e de cada um dos nossos atos. E os políticos que elegemos são, sem dúvida, reflexo desta sociedade.
Sim, eu acho difícil votar, escolher pessoas em quem confio e que merecem me representar. Mas quem disse que deveria ser fácil? Por isso mesmo, não concordo com o voto nulo: este, que querem fazer parecer um ato de rebeldia, para mim soa mais como uma injustificável preguiça. Por mais batida que seja a frase, o voto é nossa arma. Vou além: o voto é a primeira de nossas armas. As outras, com ou sem nariz de palhaço, estão ao nosso alcance em casa, na sala de aula, no escritório, na rua. Como? Buscando a honestidade nos pequenos atos. Olhando para o espelho de cara limpa. Esta corrente, sim, eu passo adiante.
Eduardo Trindade
6 comentários:
E te dou a mão nesta corrente.
Hoje não foi um dia bonito e confesso ter visto barbaridades antes de entrar naquela sala e votar.
A culpa é de todos nós,e as tuas palavras hoje, definiram tudo o que tenho pensado sobre.
Sem mais.
sdds,poeta.
abraços.
Muito Bom!
Me identifico com sua inquietude a respeito do futuro da nossa pátria.
Escrevi meu "protesto" também...
http://lindascores.blogspot.com/2010/09/simulacao-de-voto.html
Ainda há algumas pessoas conscientes, fico feliz!
Como você, passo adiante.
http://lindascores.blogspot.com/
"Que exemplo estamos dando em casa, o que estamos ensinando nas escolas e nas ruas? Com que cara alguém que oferece propina ao guarda pode reclamar de corrupção no Congresso? Uma pessoa que embolsa um troco dado por engano tem direito de se indignar diante de uma obra superfaturada? Alguém que fura a fila no mercado pode acusar outro que compra votos para se eleger? Quem joga papel de bala no meio da rua terá menos culpa do que quem desmata a Amazônia? Talvez não."
Concordo plenamento e isso já foi até tema de uma redação minha. Acho muita hipocrisia mesmo jogar toda a culpa nos políticos.
Texto muito bom :)
voto é a arma que aceitamos que fosse... nós aceitamos. Ninguém levantou a mão, ou quando fez foi silenciado pela normalidade excessiva de ser eleitor.
concordo com as atitudes de cada um, com o que falou sobre o esquecimento do que é política... e, justamente por concordar com essas coisas, não concordo com o voto.
nós podiamos bem mais que isso..
li o texto mas como esse ano justifiquei... e justifico, me abstenho de comentarios politicos.
abraços.
http://terza-rima.blogspot.com/-
ah, so pra provar como concordo com teu texto (eu nao ia comentar mas lembrei a tempo) candidatos fichas sujas são eleitos!!!!!!!!! como pode?
até.
Postar um comentário