quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Praça


Colocaram a estátua de um poeta no banco da praça.
Tão próximo da população.
Imóvel,
distante como nunca estivera em vida.

Vieram as pombas ciscando em seu chapéu.
Caíram as flores dos jacarandás sobre os ombros.
Passaram os sóis, as luas,
chuvas e cerrações.
À noite, as prostitutas o ignoraram solenemente.
De dia, os passantes nem reparavam,
mas crianças se aninhavam
em seu colo de metal.

Alguém levou os óculos esculpidos,
arte de quem não enxerga.

Ficaram-lhe os olhos de estátua:
ninguém sabe, mas o poeta via,
no outro lado da praça,
o casal de velhinhos
abraçados
– de braços dados
com o passar dos anos.

por Eduardo Trindade

8 comentários:

Anônimo disse...

Edu...
mas báh e quem será esse poeta que se cobre de jacarandás?! Humm coisas de poeta gaúcho inspirado na Feira do Livro rsrsrs
Adorei, como sempre é lindo, doce e singelo como as nuvens de algodão doce!!
estrelinhas coloridas pra ti...

Thainá Rosa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Thainá Rosa disse...

" No mar estava escrita uma cidade"
Lembrei de Drummond,sentadinho lá na praia... Quantas casais ele não acompanhará passar?
Será que os jacarandás são uma espécie de marca ? Talvez de um outro poeta que também passeia por lá...
Abraços,Edu! Gostei muito!

Ana. disse...

A poesia está em tudo,e apenas os raros consequem enxergar isso.
Como é belo,em meio a tantas babáries dessa vida,podermos enxergar as mais belas e simples coisas da vida,como esse poeta!

Adorei seu espaço!
Obrigada pelo comentário e elogio no meu!

Beijos poéticos!

Dani Santos disse...

Preocupações poéticas... também me veio à imagem de Drummond, em Copacabana, com seus "olhos de estátua", a perscrutar o absurdo do mundo...

Abraços

Eduardo Trindade disse...

Bem...
Há uma estátua do Drummond no Rio de Janeiro, em Copacabana. Notória, entre outras coisas, pela quantidade de vezes que teve seus óculos arrancados pelos vândalos.
E em Porto Alegre, na Praça da Alfândega, há uma estátua dupla de Quintana e Drummond conversando. Nesta praça ficam os tantos jacarandás que, não por acaso, volta e meia aparecem em meus textos.
Somando tudo, tirando a média e acrescentando uma pitada de memória sentimental, assim é que criei a nova "praça" que apresentei aqui. Que é um pouco de vocês também, visto que cada olhar se identificou um pouco com ela. Aliás, adorei isso!
Obrigado pelo carinho!

Thalita Castello Branco Fontenele disse...

Que lindo...

Aqui temos Rachel de Queiroz e Patativa do Assaré "estatuados". Ela já sofreu mil vezes com a perda dos óculos... Triste realidade.

talentos disse...

Eduardo, obrigada pela visita ao nosso blogue e pelo carinho comentário.Aguardamos que volte:)
Se não for abuso podemos adicioná-lo ?