quarta-feira, 26 de maio de 2010

Carta

Hoje faz anos que te foste. Aniversarias. Comemoro? Certas datas não se comemoram, por mais marcantes que sejam, ou surpreendentes, ou inebriantes. Não me acostumei ainda ao silêncio da tua cadeira de balanço. Lembras como balançavas, e rangias, e fazias tremer o assoalho? É difícil se acostumar a certas ausências. Pensava que durarias para sempre, mas ensinaste que nada é para sempre. Ensinaste da maneira mais dolorosa.
Lembras-te das nossas brincadeiras? Eras criança em teu corpo de vovó. Eras a criança mais travessa dentre todos nós. Mas os adultos confiavam em ti, confiavam-nos a ti. Mal sabiam que rolavas conosco pelo chão, empanturrava-nos de doces e inundavas a casa em guerras d’água. Quando voltavam, tu inventavas histórias para tranquilizar os adultos! Éramos todos anjinhos.
És hoje o meu anjinho. Não sei, para falar a verdade, quando é o aniversário da tua partida. Sem tua presença, os dias se confundem. E eu, sem ter uma criança-adulta com quem brincar, acabei crescendo. Virei um adulto procurando em mim a criança que foste. Brinco em tua homenagem, faço traquinagens à semelhança de ti. Lembranças? Esforço-me para não esquecer, e de repente te ouço no rangido do assoalho quando atravesso a noite. Buscando me encontrar, reencontro-te.

Eduardo Trindade

terça-feira, 18 de maio de 2010

Entrevista no Ensaios em Foco

O Ensaios em Foco, da talentosa e simpaticíssima Talita Guimarães, está com uma série de reportagens sobre o prêmio Top Blog e acaba de publicar uma entrevista minha em que abordo as motivações para escrever, minha relação com a blogosfera e o prêmio em si. Deem uma conferida aqui!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Da espera

Não aprendi a esperar sentado.
Espero gesticulando,
ou com as mãos para trás e os pés frenéticos
andando em círculos e levantando poeira.
Espero impaciente.
Corro atrás para chegar na frente,
assim espero.
Às vezes, eu me desespero
de tanto esperar.
Esgoto a frase até desvendar as entrelinhas,
vasculho teus olhos em busca de um brilho
que não seja lágrima,
dos teus olhos espero.
Adormeço para poder sonhar,
sonho para poder despertar.
Desperto, espero
oferecendo flores, canções, cartas, passagens, viagens.
Porque vivo de criar minha própria esperança,
assim espero.


Eduardo Trindade

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Prêmio TopBlog

Alô, gente! Este nosso ponto de encontro virtual está concorrendo ao prêmio TopBlog 2010! Vocês já votaram? O link está aqui ao lado!

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Noite de Lua à Beira-Mar

Entornara num só gesto o trago que trazia na taça.
Esperava esquecer,
substituir de golpe a ressaca do grande amor
pela ressaca
dura e impessoal
da bebida.

Em vão.

Entregou-se então à ressaca das ondas da praia
a beijar enfim seu corpo
duro e impessoal
num último gesto de piedade
do mar.